O concelho de Azambuja e o Ribatejo estão de luto com a morte de Sebastião Mateus Arenque, que morreu ontem, dia 1, aos 96 anos. ‘Mestre Sebastião’, como era carinhosamente reconhecido e tratado, nasceu a 7 de janeiro de 1923, em Azambuja.


“Em reconhecimento do seu mérito humano e cultural, e da dedicação à comunidade deste ilustre cidadão azambujense”, o Câmara Municipal de Azambuja declara luto municipal nos dias 1 e 2 de junho, assinalado com o hastear da bandeira do Município a meia haste no edifício dos Paços do Concelho, conforme explicado em comunicado.

Mateus Arenque, de origens humildes, concluiu a 4ª classe de escolaridade aos 27 anos. “A sua enorme força de vontade e paixão pela etnografia lançou-o na escrita dos “Subsídios para o Cancioneiro Popular de Azambuja”, em 1980. A partir daí, foram mais de uma dezena e meia de trabalhos publicados, registando muitas memórias do passado e divulgando hábitos e tradições da identidade do povo ribatejano.

Na verdade, já antes da produção literária tinha começado toda uma vida dedicada à cultura em geral e ao folclore em particular, com “muitos anos dedicados ao Rancho Folclórico “Ceifeiras e Campinos” de Azambuja”. Movido pela curiosidade, estudou ainda os costumes e a evolução da comunidade dos “casais” em redor da Vila de Azambuja. “Do fascínio por esse trabalho resultou, pela mão de “Mestre” Sebastião a fundação do Grupo Tradicional “Os Casaleiros” de Casais dos Britos”.

O seu trabalho ultrapassou, inclusive, “as fronteiras do concelho e tornaram o seu nome como um dos mais respeitados pelas entidades ligadas ao folclore”.

Em 2012, é visto como um exemplo nacional de envelhecimento ativo, pela Associação Portuguesa de Psicogerontologia, pela jovialidade e dinamismo que continuava a revelar.

Por tudo o que tem feito e escrito, tornou-se então “um grande nome não só de Azambuja mas da Cultura Ribatejana. A invejável idade do autor e a sua dedicação à etnografia ao longo de várias décadas, granjeou-lhe entre a população o título de “mestre”. A autarquia sempre se associou a esse reconhecimento e atribuiu o seu nome (desde o primeiro momento) ao Museu Municipal, inaugurado em outubro de 2004, no Centro Cultural Páteo do Valverde”.

Por todo o seu percurso e dinamismo, e pelo seu espírito aberto e empreendedor, entendeu a autarquia a “agraciá-lo com a mais alta distinção atribuída pela Câmara Municipal– a Medalha de Honra do Município, que recebeu numa cerimónia realizada a 29 de maio do ano 2003”.

A Câmara Municipal de Azambuja expressa assim “o seu profundo pesar e as sentidas condolências à família, prestando a merecida e justa homenagem à figura do Senhor Sebastião Mateus Arenque”, curiosamente no fim de semana da Feira de Maio.

Mestre Sebastião definia-se ainda como um homem simples, para quem “…tudo nasceu de rapaz pequeno, na vida do campo. Tudo começou na terra pisada, na terra lavrada, na terra semeada,… enfim, tudo começou na terra!”.

Rute Fidalgo (TP 597 A) com CM Azambuja