O ainda deputado municipal, Daniel Claro, usou a rede social Facebook para transmitir que não será candidato a nenhum cargo municipal ou de freguesia no concelho de Azambuja, nas próximas eleições autárquicas de Setembro. Depois de um resumo do trabalho desenvolvido nos últimos quatro anos, Daniel Claro apresentou razões externas para a não apresentação dessa candidatura. Em causa estão divergências ideológicas com o seu partido, o Bloco de Esquerda. Essas divergências só serão conhecidas depois do dia 29 de Setembro, como atesta a mensagem deixada no dia 5 de Agosto no seu Facebook pessoal :

 

” Durante quatro anos (4) representando o Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal de Azambuja e sempre em nome dele, protagonizei um combate político na primeira linha das minhas convicções e daquilo que no entender do meu partido era mais útil e necessário a este concelho. Enquanto outros, com nítidos propósitos eleitoralistas, se limitavam a apontar erros e omissões, nós sempre fizémos desse combate uma fonte de alternativas. Propusemos e, com sublinhado, fomos os únicos, na Assembleia do Estado do Munícipio realizada em Julho de 2011, em Aveiras de Cima, um projeto de desenvolvimento para este concelho que ainda hoje não vimos refutado, nem sequer pelo afamado mas inócuo Plano Mateus, mandado elaborar pela Câmara a troco de uns desperdiçados 60.000€ (sessenta mil euros); na sequência disto, propusemos e foi aprovado por unanimidade, mas nunca levado à prática, a realização de umas “Jornadas para o Desenvolvimento” do Concelho de Azambuja e a criação de um “Conselho Económico-Social”; em colaboração com o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, propusemos na Assembleia Municipal e ao Governo, a reestruturação das denominadas contrapartidas do “aeroporto de Ota” para valores adequados e programas de desenvolvimento económico e social que realmente beneficiavam a região e o concelho, proposta chumbada na AM pelos votos do PS e da coligação PSD/CDS (!); denunciámos, numa intervenção de fundo a propósito do Orçamento Municipal para 2012, a situação financeira da Câmara Municipal, apontando – o que até ai ninguém tinha feito – que o verdadeiro problema não estava na sua dimensão mas no facto de financeiramente ser desproporcionada em relação a um concelho que não gera, economicamente, receitas para a sustentar; batemo-nos contra a construção da Praça de Touros de Azambuja porque sabíamos que financeiramente a Câmara mentia ao dizer que possuía os recursos e porque face a outras prioridades não era uma verdadeira necessidade; apontámos, e durante algum tempo fomos os únicos, que o verdadeiro problema das piscinas na estava na novela da sua remodelação mas sim na falta de recursos e imaginação para a sua manutenção e sustentabilidade; batemo-nos com veemência contra a embrulhada da falta de pagamento às Águas do Oeste que resultou num claro prejuízo para o município; demonstrámos a mentira em que assentou o estudo que serviu de base ao aumento da Taxa de Resíduos Sólidos e estivemos sempre na primeira linha da denúncia da privatização da distribuição da água em baixa às Águas de Azambuja e suas consequências para os munícipes e até para uma adequada gestão financeira da Câmara. E sempre, mas sempre, que apontámos algum erro ou omissão apresentámos a nossa fundamentação e propusemos uma alternativa… as actas da Assembleia Municipal e as nossas posições públicas, estão aí, para quem quiser, aferir do que dizemos! Estávamos assim em condições de apresentar às eleições autárquicas de Setembro de 2013 uma candidatura que assentasse no trabalho desenvolvido e propusesse caminhos inovadores para o concelho de Azambuja. Mas a política e ainda mais a política que assenta na intervenção partidária, não se faz apenas fruto de uma dimensão local – há quem defenda, com propósitos eleitoralistas, como é evidente, que estas eleições apenas importam localmente mas tal é uma falácia, uma mentira muitas vezes repetida e outras tantas desmentida no dia seguinte à eleições – mas é antes assente, igualmente, em princípios partidários de dimensão regional e nacional. Esconder isto é mentir às pessoas! E nessa dimensão nacional e regional as diferenças entre mim e o meu partido têm-se acentuado de forma inequívoca, assentando em divergências políticas e organizativas bastante importantes e não resolvidas até ao momento – que não divulgarei, a menos que a tal as circunstâncias me obriguem, até ao dia 29 de Setembro – porque constam de uma carta enviada, hoje mesmo, à Mesa Nacional do Bloco de Esquerda e que têm a sua raiz, como causas profundas, em erradas concepções organizativas e na falta de apresentação (no meu entender) de um projecto de vida para Portugal, coerente e fundamentado para além da palavra de ordem “governo de esquerda” em que, principalmente nas relações com sectores do Partido “Socialista” se deixe de espalhar ilusões nas virtualidades de uma qualquer “social democracia de esquerda” (seja lá o que isso for) e explique com clareza à população a verdadeira extensão daquilo que enfrentamos e com crueza, a dimensão das medidas necessárias para recuperar a nossa independência económica e social, única forma de darmos substância, à esquerda e sem populismos, ao descontentamento e desilusão de largos sectores da sociedade. Num contexto mais regional, a apresentação de uma candidatura, num concelho limítrofe, que fere de forma muito grave (repito, no meu entender) os princípios éticos em que sempre assentou a prática política do Bloco de Esquerda foi a “gota de água” que me colocou numa posição absolutamente insustentável face a qualquer protagonismo nestas eleições autárquicas! Não serei assim, com toda a humildade de militante do BE mas sempre na condição de homem livre, pelas razões que aponto acima e, sublinho, apenas por essas, candidato a qualquer lugar autárquico em 29 de Setembro. “