Opinião de Augusto Moita

OPINIÃO (Inquietudes marginais)

COISAS E LOISAS”

Estimado leitor; neste seu mensário encontrará três súmulas opinativas que constituem de per si inquietudes, naturalmente marginais por subjetivas.

1. Inconsequente e indecorosa a audição na Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI -a Daniela Martins, mãe das gémeas luso-brasileiras, Maitê e Lorena, de 5 anos, que receberam um dos tratamentos (Zolgensma) mais caros do mundo, acima dos 4 milhões de euros, no Hospital de Santa Maria – HSM; constitui, no meu ponto de vista, um “fait divers” político. Não se questiona a legitimidade desta ou de outras CPI mas sim, neste particular, a sua inconsequência, por duas ordens de razão: 1) Porque está a decorrer um processo de inquérito na Inspeção-Geral das Atividades em Saúde – IGAS; 2) Porque paralelamente decorre uma investigação criminal pelo Ministério Público – MP/DCIAP sobre o caso. Questiona-se o resultado prático desta CPI. Não lhe parece, estimado leitor, uma sobreposição de inquirições? O que pretendiam os deputados “obter” da mãe das gémeas? Acaso esperavam que a senhora denunciasse (traísse) quem de forma humana e altruísta a ajudou em uma situação de tão extrema gravidade (saúde periclitante de suas filhas, vitimas de Atrofia Muscular Espinhal – AME). Qualquer progenitor/a, face a uma situação análoga, agiria de igual modo! Indecorosa, pelo método e, sobre tudo, pela forma inquisitorial como foram colocadas as questões pelos representantes de alguns partidos, nomeadamente do Chega, através do seu irreverente, justicialista e verborreico, André Ventura. Acresce à inocuidade destas audições, o facto de os arguidos, pelo direito que lhes concede o seu estatuto, se remeterem ao silêncio! Assistimos a audições, no mínimo, deploráveis! Chamo à atenção que as CPI têm custos para o erário público (neste caso: o pagamento das viagens da mãe, entre outras despesas!) Não teria sido mais ponderado os deputados terem aguardado pelas conclusões da investigação aos alegados crimes de tráfico de influências e abuso de poder e não terem “massacrado” uma mãe, cuja “condenação” a vida já se encarregou de “julgar”. Contudo, é minha convicção que, este imbróglio ético-jurídico teria sido evitado se o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tivesse pura e simplesmente ignorado o e – mail do seu filho, mantendo a necessária equidistância e não arrastar “deliberadamente” outros atores com responsabilidades públicas, para a ribalta. Sim, aqui reside o cerne da questão! Aguardemos pelas conclusões da investigação do MP/DCIAP. Inquietam-me decisões parlamentares absolutamente inócuas e dispendiosas!

2. Entretanto André Ventura, refeito do desaire nas eleições europeias, voltou à bolha mediática, reforçando o seu “estatuto” de “única cabeça pensante no partido Chega”, “disparando” em todas as direções, nomeadamente, ao fazer apelo à insubordinação, desafiando explicitamente os polícias a comparecerem na AR, no dia da apresentação de propostas, incluindo as do Chega, em uma atitude manipuladora, imatura e, em um claro aproveitamento político. Será que as forças de segurança não possuem representantes legais – os sindicatos -? É fácil “dar tudo a todos” quando não se têm responsabilidades de governança e apenas se pretende fomentar a agitação social e a rebelião socioprofissional, colocando em causa valores democráticos. Até quando permitirá o povo que estes prevaricadores continuem os seus desmandos? A extrema-esquerda encontra-se já em “coma profundo”. O que esperamos que aconteça mais para marginalizar a extrema-direita? Entretanto a PGR, Lucília Gago (a sorumbática) foi convocada por todos os partidos, à exceção do Chega, para uma audição parlamentar. Questiono, uma vez mais, os resultados práticos desta audição? Em seis anos de mandato da PGR, nunca os deputadosse preocuparam em escrutinar a sua performance. Naturalmente que, a PGR não irá falar de casos concretos em segredo de justiça! Irá sim, carpir as suas mágoas (fugas de informação – o que sugere fortes indícios de corrupção no seio das estruturas do MP –; falta dos mais variados meios ao dispor; justificar: o famigerado parágrafo, as escutas desproporcionadas temporalmente e, o evidente desrespeito pelo Parlamento ao dar uma entrevista na RTP antes da audição parlamentar, etc. etc.) no “muro das lamentações” em que se “tornaram” as CI. Acresce que, a PGR está em final de mandato e nada de inovador irá acrescentar! O foco está na definição do perfil para o novo/a PGR. Inquietam-me todas as posições que apelem à desordem e, outras que nada acrescentam!

3. O cretino e egocêntrico Ronald Trump manifestou, publicamente, o desejo de libertação de todos os presos do assalto ao Capitólio. Finalmente o seu subconsciente desmascarou-o ao assumir de forma implícita a responsabilidade ético-moral e de cidadania perante este desejo, tentando redimir-se da sua culpabilidade perante aqueles, no que foi um evidente incitamento à insubordinação popular. Como é possível em um país como os EUA, as leis permitirem a candidatura à presidência da república de um político arguido em vários processos-crime? Inquieta-me o futuro da UCRÂNIA e da NATO se este “energúmeno-político” chegar à presidência!

AUGUSTO MOITA

Escrito em 08 de julho de 2024 para o Correio do Cartaxo