Os Bombeiros de Azambuja estão sem veículo de desencarceramento há cerca de dez anos, alerta o comandante daquela instituição, Ricardo Correia, que adianta ainda que o veículo que atualmente fazia essas funções avariou em maio, já regressou entretanto ao serviço, mas já voltou a falhar novamente.

Para além deste veículo, Ricardo Correia fala em outras necessidades sentidas pelos Bombeiros. “Precisamos de um quartel novo, uma vez que a nossa atividade aumentou significativamente, assim como o número de funcionários”, explica o comandante ao Correio de Azambuja, acrescentando ainda, que dentro desta dificuldade, existe ainda a “a falta de condições sanitárias e estruturas para acomodar as mulheres do nosso efetivo”, que é composto por 40% de operacionais do sexo feminino.

Para já, ainda não há perspetivas de quando o novo quartel será construído, mas já se sabe que o mesmo será “junto às bombas de combustível” do Intermarché. Ricardo Correia explica ainda que este edifício “terá de ser feito através de apoios”, e o comandante dos Bombeiros de Azambuja adianta ao nosso jornal que “o Governo já prometeu a construção deste novo quartel com recurso aos fundos comunitários 2030”.

Para além deste financiamento, os soldados da paz, garante ainda Ricardo Correia, “vão tentar ir buscar outros apoios” para suportar a construção do novo quartel, que se espera que tenha as condições e as infraestruturas necessárias à atividade dos Bombeiros de Azambuja, tais como um espaço de treino ou uma casa-escola, inexistentes no edíficio atual, que tem cerca de 40 anos.

Os Bombeiros não podem ser apenas lembrados quando há fogos”

Na entrevista que deu ao Correio de Azambuja, Ricardo Correia fez também algumas críticas à posição do Governo em relação aos Bombeiros. “O Governo tem vindo a apostar na GNR e na PSP, mas abandona os corpos de Bombeiros”, acrescenta. Na sua perspetiva, deve existir “uma visão de integração e ver as coisas de outra forma” e a prova “desse abandono é a fusão do Serviço Nacional de Bombeiros (SNB) com o Serviço Nacional de Proteção Civil (SNPC) e que acabou com o apoio à aquisição de equipamentos e viaturas”.

Portanto, e no entender de Ricardo Correia, “o Governo tem de pensar nas outras áreas. Os Bombeiros não são só os fogos, há acidentes todos os dias, e no caso dos Bombeiros de Azambuja, nós vamos para mais acidentes rodoviários do que para incêndios”. Por isso, e dada a quantidade de ocorrências relacionadas com acidentes rodoviários, o comandante dos Bombeiros de Azambuja pede, com urgência, que “se dêem condições” para o socorro às populações nesta matéria, como é o caso do veículo de desencarceramento, que custa cerca de 300 mil euros.

“Nós conseguimos comprar uma ambulância, por exemplo, mas não um veículo destes, e nem podemos sequer pedir um financiamento para a sua aquisição”, porque para além de prejudicar a estabilidade financeira da Associação, “temos de garantir os compromissos com os fornecedores, e sobretudo com os funcionários”, explica o comandante, acrescentando ainda que “se um determinado território gera uma grande receita e um grande volume de tráfego, como é o caso da logística em Azambuja, é preciso primeiro garantir as condições para o trabalho das forças de segurança e socorro”, que, a ser ver, não é o que acontece atualmente.

“Agora vamos ter mais um armazém, em Vila Nova da Rainha, e acho muito bem que se criem empregos, economia, etc, mas isso vai trazer mais trânsito para a Nacional 3, mais pessoas para aquela zona, o que potencia o risco de acidentes”, explica Ricardo Correia, lamentando que “ninguém veio saber se os bombeiros detém as condições necessárias” para garantir o socorro eficaz.

Ricardo Correia recordou ainda o acidente que matou um camionista no início de junho em Vila Nova da Rainha, ocorrência na qual os Bombeiros de Azambuja precisaram de desencarcerar a vítima. “O nosso material de desencarceramento está a ser transportado num veículo improvisado, com 27 anos, e deveria ser transportado como se fosse um ovo”, acrescenta o comandante, que pede intervenção urgente nesta questão, “até porque este veículo improvisado avariou em maio, já voltou ao serviço, mas já avariou novamente”.

Sobre este assunto, o presidente da Câmara Municipal de Azambuja, Silvino Lúcio, garantiu, na última Assembleia Municipal, que vai pedir apoio a mecenas e a empresas do concelho, para a aquisição deste veículo, mas Ricardo Correia entende que os soldados da paz “não devem andar de mão estendida a pedir apoios, nem devem ser os munícipios a financiar os corpos de Bombeiros”, e que estas ajudas devem ser garantidas pelo Governo, uma vez que eles “estão sob a alçada do Ministério da Administração Interna”.

Pandemia veio agravar as dificuldades dos Bombeiros de Azambuja

Ao Correio de Azambuja, Ricardo Correia acrescenta que a pandemia da Covid-19 “agravou as dificuldades” dos Bombeiros, porque para além de se ter de mais uma despesa com a aquisição de equipamentos de proteção, “estes aumentaram exponencialmente o preço”. No entanto, parte destas despesas extra foram suportadas pela Câmara Municipal de Azambuja, “que comprou equipamentos de proteção individual” para os Bombeiros de Azambuja e de Alcoentre, e ainda para a Cruz Vermelha de Aveiras de Cima.

Adicionalmente, “a nossa sorte foi que ainda tínhamos equipamentos em stock da altura do H1N1 (Gripe A, de 2009) e que nos foi muito útil no começo da Covid-19”, explica Ricardo Correia, acrescentando que, durante os últimos dois anos, a Associação Humanitária dos Bombeiros de Azambuja fez stock a triplicar de equipamentos de proteção individual, “até porque a Covid ainda não acabou e continuamos a ter transporte de casos positivos”. Outra das dificuldades sentidas pelos soldados da paz foi também a redução do transporte de doentes, uma das fontes de receita dos Bombeiros, juntamente com as quotas dos sócios, apoios financeiros, entre outros.

No entanto, e para além das dificuldades sentidas com a Covid-19, o aumento do custo do combustível também é outra das questões que afeta os Bombeiros de Azambuja. “Entre maio de 2020 e maio de 2022, tivémos um aumento do combustível em cerca de um euro por litro”, explica o comandante, ressalvando que “neste momento estamos a pagar mais 50 mil euros em combustível do que aquele que pagávamos em 2020”, e que a receita obtida pelos Bombeiros “não teve um aumento que acompanhe esta subida”.

Empresas do concelho fazem questão de apoiar os Bombeiros

Os Bombeiros de Azambuja, explica o comandante, vão contar com um apoio da Sugal, localizada no concelho, para a aquisição de um veículo de transporte de doentes, uma vez que os existentes “têm imensos quilómetros e estão desgastados”. Ao mesmo tempo, a Jerónimo Martins, também localizada em Azambuja, deu um apoio de 15 mil euros para a compra de fardamento com material refletor, “que era uma das nossas necessidades urgentes, porque as nossas fardas não eram refletoras, o que impossibilitava que os operacionais muitas vezes não fossem vistos de noite, o que punha em causa a sua segurança”.

Para já, e a acrescentar a estes apoios, está também em cima da mesa a atribuição de um apoio de 60 mil euros, também de uma empresa do concelho, a qual Ricardo Correia não pôde adiantar qual era, para a “aquisição de uma nova ambulância”, e ainda mais um apoio da Exide para a compra de um “equipamento de câmara térmica”, que tem como objetivo dar apoio nos incêndios.

O comandante dos Bombeiros de Azambuja defende ainda a criação de uma associação de empresários em Azambuja, a qual teria o intuito de “lutar pelos interesses das empresas”, onde se insere “a redução do risco”, sendo que esta minimização do risco só consegue ser feita com o apoio das forças de segurança e de socorro.

“As empresas que estão no concelho servem seis milhões de pessoas”, acrescenta Ricardo Correia, explicando que “nenhuma delas tem interesse que um incêndio ou um acidente” afete o seu trabalho, porque “se estas empresas pararem por algum motivo, isto vai afetar a economia”.

Bombeiros de Azambuja com efetivo reforçado para a época de incêndios

Os Bombeiros de Azambuja têm com 60 operacionais, entre efetivos e voluntários. Sobre a preparação para a época de incêndios, que habitualmente acontece no verão, Ricardo Correia explica que, este ano, o efetivo dos Bombeiros “foi reforçado”, sendo que, atualmente, consegue-se “garantir 12 pessoas numa primeira chamada para um incêndio rural”, resposta esta que é reforçada com a presença da Central Municipal de Operações e Socorro (CMOS), inaugurada em fevereiro e que integra os Bombeiros de Azambuja e de Alcoentre e a Cruz Vermelha de Aveiras de Cima.

“Para além dos nossos operacionais, a CMOS consegue ainda garantir mais seis veículos de apoio”, acrescenta o comandante dos Bombeiros de Azambuja, que considera que este número é “uma boa resposta”. No entanto, e sobretudo numa época em que se têm registado vagas de calor, com temperaturas a ascender os 40 graus, Ricardo Correia apela à prevenção e à sensibilização das populações para evitar os incêndios, uma vez que estes “só são provocados ou por negligência ou por atos criminosos”.

(Texto original publicado na edição de julho do Correio de Azambuja)