A corporação dos Bombeiros Voluntários de Azambuja celebrou, no passado fim de semana, dias 14 e 15 de janeiro, o seu 91º aniversário. Para além da demonstração de viaturas e de um desfile pelas ruas do concelho, o programa desta celebração contou ainda com uma sessão solene, e que contou com a presença da Secretária de Estado da Administração Interna, Patrícia Gaspar, juntamente com membros dos corpos sociais dos Bombeiros de Azambuja, autarcas, representantes da Autoridade Nacional da Proteção Civil e da Federação de Bombeiros do Distrito de Lisboa, entre outros convidados.

A sessão começou com uma intervenção do presidente da Assembleia Geral dos Bombeiros de Azambuja, António José Matos, que disse que este era um “dia de celebração”, mas também um “dia de reflexão”. Neste sentido, o também vice-presidente da Câmara de Azambuja destacou a dedicação dos soldados da paz, sobretudo numa altura em que as corporações vivem dificuldades financeiras e também de recursos humanos, uma vez que grande parte do trabalho dos Bombeiros é garantido por voluntários.

No entender de António José Matos, o Estado Central deve dar mais apoios financeiros aos Bombeiros, apelando a Patrícia Gaspar que dê uma ajuda neste sentido, recordando ainda que, no caso de Azambuja, é a autarquia a suportar os gastos das corporações de bombeiros. “A Administração Central deve fazer mais”, reiterou o presidente da Assembleia Geral dos Bombeiros de Azambuja.

A mesma ideia foi também partilhada pela presidente do Conselho Fiscal, Maria da Conceição Maurício, acrescentando ainda que “não faz sentido que a gestão dos corpos de bombeiros seja assegurada por colaboradores não remunerados”, criticando ainda o facto de, muitas vezes, “se ter de pedir apoios a empresas”, para suportar o trabalho dos operacionais dos Bombeiros, onde muitos trabalham ainda de forma voluntária e sem receber qualquer remuneração. Maria da Conceição Maurício lembrou também “o apoio fundamental da Câmara Municipal de Azambuja” aos corpos de Bombeiros, apelando ainda a que haja um “aumento dos salários” dos operacionais, uma vez que muitos deles recebem apenas o Salário Minímo Nacional.

Por sua vez, o presidente da direção da Federação dos Bombeiros do Distrito de Lisboa (FBDL), António Carvalho, recordou “a dedicação” dos operacionais dos Bombeiros, mesmo em tempos díficeis, e considera que a verba do Orçamento de Estado destinada para os soldados da paz “é insuficiente”, mesmo com o aumento de dois milhões de euros, o que equivale a cerca de 400 euros para cada corporação. No mesmo discurso, António Carvalho assumiu o compromisso da FBDL em “conseguir mais equipamentos e melhorar as condições de trabalho” dos Bombeiros, lembrando ainda que “as Câmaras Municipais são, muitas vezes, o pilar das corporações”, dando como exemplo a autarquia azambujense que, “mesmo em dificuldades, não deixa de apoiar os Bombeiros”.

Investir na Proteção Civil é um dos grandes objetivos do Governo, garante Patrícia Gaspar

Nesta cerimónia, foram ainda agraciados diversos operacionais e entidades com medalhas de honra e gratidão, incluindo ainda a passagem de duas bombeiras estagiárias para os quadros da corporação. Neste sentido, e para a Secretária de Estado da Administração Interna, Patrícia Gaspar, é importante fomentar “a igualdade de género e de oportunidades nesta área”, porque “continua a ser mais díficil para as mulheres do que para os homens”.

Para a governante, celebrar os 91 anos dos Bombeiros de Azambuja é também celebrar “o serviço público realizado, muitas vezes, com enorme esforço pessoal em prol da comunidade”, enaltecendo ainda o “pilar fundamental” que as corporações de Alcoentre e Azambuja são para o concelho, sendo ainda “parceiros fundamentais da Proteção Civil no apoio às demais ocorrências”. No mesmo discurso, Patrícia Gaspar mostrou-se solidária com as dificuldades das associações de bombeiros, que vivem da “boa vontade dos voluntários”, que são cada vez mais díficeis de encontrar, mas que, para já, não tem “nenhuma solução mágica” para evitar estas dificuldades, defendendo que é preciso começar a trabalhar nesse sentido.

“A forma que nós temos de reduzir ou mitigar parte destes problemas é investir na área da Proteção Civil e dos Bombeiros”, através da “prevenção e na capacitação” dos operacionais, congratulando a Câmara Municipal de Azambuja “por todo o trabalho e investimento que tem feito nesta área”. Ainda no entender de Patrícia Gaspar, a Protecção Civil e o socorro são duas áreas que vão enfrentar “enormes desafios”, através das alterações climáticas e outros fenómenos, tais como a Covid-19, por exemplo.

Ainda de acordo com a Secretária de Estado, o Orçamento de Estado para 2020 destinou 28 milhões de euros à área da Proteção Civil, mais 4% do que a verba de 2019, um exemplo que serviu para ilustrar o aumento do investimento do Governo nesta matéria ao longo dos últimos anos.

“Conseguimos para 2023 o aumento mais expressivo dos últimos anos, com um diferencial de 6,7% neste financiamento e que passa a representar um valor global de 31,7 milhões, mais dois milhões do que o orçamento que tínhamos no ano passado”, referiu Patrícia Gaspar, lembrando ainda que o Governo “tem vindo a reforçar a rede de equipas de intervenção permanente”, sendo que, atualmente, existem 780 mil equipas em todo o país. Ainda para os Bombeiros, a Secretária de Estado da Administração Interna recordou ainda que, no âmbito do PRR, estão destinados 20 milhões de euros e ainda o reforço dos meios de resposta.

Por fim, Patrícia Gaspar adiantou que um dos grandes desafios do Governo será “repensar o setor dos Bombeiros de forma adequada às características e exigências do futuro”, abrindo a porta a reuniões com autarcas e presidentes dos corpos de Bombeiros para se chegar a entendimentos nesta matéria.

Presidente da direção e comandante dos Bombeiros alertam para necessidades urgentes da corporação

Na mesma cerimónia interveio ainda o presidente da direção da Associação de Bombeiros Voluntários de Azambuja, Manuel Arraião Marques, que iniciou o seu discurso a dizer que este “é um dia de festa para todos, mas também tempo de homenagear e também para agradecer” a todos aqueles que ajudaram a erguer a associação, em 1932, bem como a todos os colaboradores e operacionais deste corpo de bombeiros.

No entanto, e ainda no entender do presidente dos Bombeiros de Azambuja, nos dias de hoje é “cada vez mais difícil encontrar pessoas com disponibilidade de tempo e motivação para se dedicarem a esta causa”, considerando que o atual modelo, baseado em trabalho voluntário, “há muito que está esgotado”, e, por isso, “deve ser revisto, dando uma resposta efetiva às prioridades de hoje”.

Ao mesmo tempo, considera ainda Manuel Arraião Marques, para além das dificuldades de recursos humanos, há também “vários constrangimentos ao nível da tesouraria”, devido aos “constantes atrasos nos pagamentos dos serviços efetuados pelas várias vertentes do Serviço Nacional de Saúde”, mas também aos parcos recursos que chegam por via do Governo. Contudo, o presidente dos Bombeiros de Azambuja reconhece que “estas dificuldades são comuns a muitas outras associações humanitárias” e espera que, tanto a Liga dos Bombeiros Portugueses como a FDBL arranjem uma “solução para que deixemos de viver constantemente num clima de incerteza”, recordando que o trabalho dos soldados da paz não é só no combate a incêndios.

“Quero deixar aqui que os nossos bombeiros estão aqui com um propósito e com a disposição para servir e para ajudarmos a ter mais e melhores condições”, prosseguiu Manuel Arraião Marques, relembrando ainda a necessidade da construção de um novo quartel para os Bombeiros de Azambuja, uma vez que a capacidade do atual já chegou ao limite; e ainda da necessidade urgente de adquirir um novo veículo de desencarceramento, que espera que seja uma realidade em 2024.

Para o dirigente, 2022 foi ainda “um ano muito marcante para esta associação”, devido não só à aprovação das propostas do Orçamento Participativo, mas também devido “ao apoio extraordinário da Câmara Municipal e da sensibilização do tecido empresarial para angariação de apoios financeiros”, no sentido de concretizar estes dois grandes objetivos. Para além dos apoios monetários, os Bombeiros de Azambuja receberam ainda três novas viaturas de socorro, oferecidas pelas empresas Sugal, Auto Ribeiro e Servier, veículos que foram inaugurados e apresentados à população antes desta sessão solene.

Já no entender de Ricardo Correia, comandante da corporação azambujense, “a pandemia e a guerra na Ucrânia trouxeram desafios”, no sentido em que estas alteraram a economia e o valor dos bens essenciais, o que, por si só, provoca um “impacto nas contas da associação”. O comandante dirigiu ainda umas palavras de apreço a todos aqueles que contribuiram para a existência desta corporação, alertando ainda para as dificuldades em recrutar voluntários, recordando também a necessidade de um novo quartel, porque o atual, considera, “não tem espaço de treino, não tem já espaço para abrigar os veículos, nem espaço para abrigar os equipamentos”.

Segundo Ricardo Correia, os operacionais dos Bombeiros de Azambuja não são assalariados, mas “sim profissionais” com uma grande dedicação às suas funções, e neste sentido, alertou também para a necessidade de melhorar as remunerações dos soldados da paz e a tornar a profissão “mais atrativa”. Ainda no entender do comandante, deve também haver remunerações para os voluntários dos corpos de bombeiros, e o mesmo aproveitou ainda para salientar o “bom funcionamento” da Central Municipal de Operações de Socorro (CMOS), inaugurada em 2022, e que “permite dar uma melhor resposta ao cidadão”.

Câmara de Azambuja vai dar 250 mil euros para aquisição de um veículo de desencarceramento

Na mesma sessão solene, discursou ainda o presidente da Câmara Municipal de Azambuja, Silvino Lúcio, que lembrou o papel fundamental dos Bombeiros na sociedade, assim como a “forma dedicada” com que exercem o seu trabalho. O autarca salientou ainda o aumento, por parte do munícipio, da verba destinada à área da Proteção Civil, destacando ainda o trabalho da CMOS, que “foi pioneira no distrito de Lisboa”.

O presidente da Câmara de Azambuja não se mostrou indiferente aos apelos deixados pelos soldados da paz, em relação às obras do novo quartel e à aquisição do veículo de desencarceramento, adiantando que, para a concretização deste último objetivo, a autarquia conta com o apoio de mais uma dezena de empresas locais, que contribuiram financeiramente para a compra deste veículo, a que se juntam ao valor arrecado através da realização do Azambuja Cultfest e ainda a mais um apoio de 250 mil euros, dados pela Câmara Municipal. Neste sentido, Silvino Lúcio manifestou o desejo que este objetivo “se cumpra o mais breve possível”, uma vez que este é um veículo que pode salvar vidas.

Recorde-se que, em entrevista recente ao Correio de Azambuja, Ricardo Correia explicou que o atual veículo de desencarceramento já tem 27 anos, e dada a sua idade, fica muitas vezes inoperacional, e que a aquisição de um novo ronda os 300 mil euros, valor que é incomportável para a associação.